Orestes sendo atormentado pelas Fúrias
Se se considerar que o caso é muito grave para ser decidido por simples mortais, tampouco terei permissão para julgar os criminosos motivados em seus atos pelo desejo rancoroso de vingança; sob outro aspecto, chegas como suplicante, purificado pelos ritos pertinentes e inofensivo para o meu sagrado altar. Por isso minha decisão é acolher-te, pois tua vinda não ofende esta cidade. Mas estas criaturas que te perseguiram sem dúvida são detentoras de direitos merecedores de toda a nossa atenção; se lhes negarmos a vitória em sua causa todo o veneno do seu ódio cairá sobre esta terra como um mal intolerável trazendo-nos intermináveis amarguras. Nesta situação, quer eu lhes dê ouvidos, quer não as favoreça, terei de sofrer inevitáveis dissabores. Entretanto, já que a questão chegou a meu conhecimento indicarei juizes de crimes sangrentos, todos comprometidos por um juramento, e o alto tribunal assim constituído terá perpetuamente essa atribuição. Apresentai, então, vós que estais em litígio, testemunhas e provas - indícios jurados bastante para reforçar vossas razões. Retornarei depois de escolher os melhores entre todos os cidadãos de minha Atenas, para que julguem esta causa retamente, fiéis ao juramento de não decidirem contrariamente aos mandamentos da justiça.
Orestes é o personagem central da Oréstia, trilogia escrita pelo grego Ésquilo, composta das tragédias Agamemnon, Coéforas e Eumênides. Nesta, Orestes é perseguido pelas Fúrias, pelo assassinato da própria mãe, Climnestra. Ele clama pela deusa Atena e esta vem presidir a sessão de seu julgamento. Ela convoca os cidadãos gregos considerados mais corretos para serem juízes e, após ouvir o teor da acusação das Fúrias, ela fala da "necessidade de ouvir o outro lado", o acusado. Ao ouvir Orestes, este apresenta sua versão dos fatos, narrando que matou sim a mãe, mas o fez por comando do Deus Apolo, para vingar a morte do pai, da qual ela havia sido executora (em "Agamenon", Climnestra enrola o marido em um manto, quando ele sai da banheira, para que ele não resista ao que o espera nem possa escapar, e o golpeia três vezes; em "Coéforas", ao descobrir que a mãe matou seu pai, Orestes corta a garganta dela com sua espada); Orestes conta, também, que sacrificou, por recomendação do mesmo Deus Apolo, um porco, para se purificar por ter derramado o sangue de sua mãe. Para formar sua convicção, Atena diz que é preciso analisar as provas, ouvir testemunhos. Ao ser ouvido, o Deus Apolo confirma o depoimento do acusado Orestes. Os juízes são conclamados a votar, depositando seus votos em uma urna. A Deusa Atena adianta seu voto, a favor de Orestes, sendo que este voto só será válido em caso de empate na contagem de votos dos outros juízes, o que acaba ocorrendo (daí a expressão "Voto de Minerva", já que, dentre os romanos, Atena é conhecida pelo nome de Minerva).