De autoria de Rodio Nogueira. Publicado no Jornal Extra, ano XI, Nº 51, edição de 24 de dezembro de 2008 a 09 de janeiro de 2009.
Ciridião Durval, Baldomero, São Leonardo e Santa Luzia lideram índice de infectados
A questão é antiga e o procedimento é o mesmo. Gestores do sistema prisional alagoano se comportam sempre da mesma maneira para esconder o que ocorre por trás dos muros das prisões do Estado. Detentos portadores de Aids e tuberculose se misturam diariamente e fazem refeição no mesmo refeitório. O drama atinge os presídios Baldomero Cavalcante, Ciridião Durval, São Leonardo, presídio Santa Luzia e o da cidade de Arapiraca. Os casos de óbitos por Aids ou tuberculose são omitidos.
Mas uma fonte do Instituto Médico Legal Estácio de Lima de Maceió e Arapiraca denunciou ao jornal Extra que a ordem neste caso é não revelar a verdadeira causa da morte do detento. E que normalmente o atestado de óbito expedido apresenta como motivo insuficiência cárdio-respiratória ou ataque cardíaco. E como a fonte que assina o laudo é oficial, a família normalmente não costuma questionar.
Existe a informação de que o número de presos portadores de Aids é grande e que não existe nenhum controle por parte do setor de saúde. Quando o caso chega ao extremo com o doente em fase terminal ele é levado para o Hospital de Doenças Tropicais (HDT), localizado no Trapiche da Barra, onde o assunto fica sob absoluto sigilo. E muitas vezes até a família não tem acesso a informação.
Neste caso, a vítima tem o caixão lacrado e é sepultado o mais rápido. Há quem diga que é para atender as determinações do Ministério da Saúde. Dentro das cadeiras é rigorosamente proibido fazer comentário sobre o caso. Apesar dos cerca de dois mil sentenciados espalhados pelas prisões, este assunto se vazado pode acarretar vários problemas para os apenados que vivem sobre a lei dos gestores. O caso é tão sério que mesmo os parentes dos mortos não ousam tocar no assunto.
Fome e Desprezo Ameaçam Detentos
A leptospirose ou popular "doença do rato" como é chamada pelos sentenciados tem sido uma grave ameaça a população carcerária alagoana. Pessoas denunciam que as celas estão infectas, os sanitários sempre sujos e o lixo se espalha pelos corredores das cadeias. Mas, é durante a noite que os presos ficam vulneráveis a contaminação, devido ao ataque de ratos que passeiam pelos corredores.
Um detento que ganhou a liberdade há pouco tempo revelou ao jornal Extra que a imundice é grande e que os gestores nada fazem para evitar a proliferação de doenças. Mas, sabem mandar punir quem não se enquadrar ao sistema que é perverso e venal. Um outro detento que não pode ter a identidade revelada disse que no período de chuva a água invade as celas e os sanitáriosjogam para o salão urina e fezes. "Observe os presos. São quase todos amarelos", comenta o ex-detento.
O ano de 2008 registrou dezenas de fugas, assassinatos e rebeliões. Os motivos, ainda segundo o ex-preso acusado de tentativa de homicídio, estão ligados às péssimas condições das prisões, alimentação que mais parece lavagem e o tratamento imposto por alguns diretores. "O mundo na prisão é de cão. Quem tem algum dinheiro pode comprar sua alimentação fora do sistema e chega até ter proteção de algum agente corrupto", revela o ex-preso.
Ele completa afirmando que graças a Deus o juiz Marcelo Tadeu, ex-titular da Vara Criminal, foi um grande protetor dos detentos. "Ele dentro da visão jurídica defendeu aquele que um dia cometeu algum tipo de delito. Foi atuante e soube trabalhar. Ele era querido pelos presos espalhados pelo Estado porque a Intendência Penitenciária não faz nada para melhorar a condição de vida. Marcelo Tadeu diante do caos que envolve os presídios denunciou que aidéticos e tuberculosos estão misturados nos presídios alagoanos.
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