domingo, 28 de março de 2010

O Julgamento do casal Nardoni

Popular segurando cartaz com os dizeres: 'Eu já sabia, o Brasil já sabia', referindo-se à condenação dos réus


Advogado Roberto Podval sendo vaiado na entrada do fórum


Promotor Francisco Cembranelli sendo aclamado após condenação do casal


Populares comemoram, em frente ao fórum, a sentença condenatória

Ocorreu, na semana passada, o julgamento de Alexandre Nardoni e Ana Carolina Jatobá, pelo assassinato da menor Isabella Nardoni, filha de Alexandre e enteada de Ana Carolina, bem como por tentarem apagar evidências do crime. Foram cinco dias intensos, os quais culminaram com uma não tão surpreendente condenação, já que o casal já estava condenado, antes, pela sociedade, efeito da gravidade da acusação e da exposição midiática.

Representando a justiça pública estava o promotor Francisco Cembranelli; na defesa, o advogado Roberto Podval. O júri foi presidido pelo Juiz Maurício Fossen. O corpo de jurados foi formado por três homens e quatro mulheres, de um universo de quarenta convocados.

O primeiro dia (22/03, segunda-feira) foi marcado pelo depoimento de Ana Carolina Oliveira, mãe de Isabella (tanto a mãe quanto a madrasta se chamam Ana Carolina). O depoimento foi tão emocionado que levou às lágrimas uma das juradas e boa parte da platéia. Alexandre Nardoni chorou quando Ana Carolina Oliveira disse que o sonho de Isabella era ler e escrever, mas era um sonho que ela não tinha conseguido realizar. Após o depoimento, a defesa requereu, no que foi atendida, que a mãe de Isabella ficasse à disposição da justiça, incomunicável, para possível acareação com os réus. O promotor Cembranelli classificou o pedido como desumano e uma punição à mãe. A sessão foi suspensa, às 21:50, para o dia seguinte.

O segundo dia teve o depoimento da Delegada que conduziu as investigações do caso, Renata Pontes. Ela afirmou ter 100% de certeza que o casal Nardoni era culpado pelo crime. Após, depôs o médico legista Paulo Sérgio Tieppo Alves, do IML de São Paulo. Foram exibidas imagens do corpo da menina, o que provocou grande comoção. Pela defesa, depôs o perito criminal baiano Luiz Eduardo Carvalho, para tentar desqualificar os laudos oficiais. O julgamento terminou mais cedo desta vez, às 19:30.

No terceiro dia, a defesa do casal começou a dar mostras de cansaço. O advogado Roberto Podval declarou que iria cortar diversas testemunhas arroladas para tentar apressar o julgamento, já que os depoimentos estariam demorando demais. O primeiro depoimento foi da perita criminal Rosângela Monteiro, que defendeu o trabalho da perícia na cena do crime. Ela asseverou, ainda, que a primeira gota de sangue identificada estava na entrada do apartamento, indicando que Isabella fora ferida em outro local antes. O advogado de defesa foi vaiado, na entrada do fórum, por populares, que acamparam na entrada do fórum durante toda a semana em que ocorreu o julgamento; quase foi agredido. A defesa dispensou cinco testemunhas. Foi ouvido o jornalista Rogério Pagnan, da Folha de São Paulo. Ele disse que ouviu do pedreiro Gabriel Santos Neto, que fazia obras em uma casa nos fundos do edifício, que o imóvel fora invadido na noite do crime. Porém, o pedreiro havia negado a informação à Polícia posteriormente. Às 19:00, foi encerrada a sessão.

O quarto dia começou com duas horas de atraso, com o depoimento de Alexandre Nardoni. Ana Carolina Jatobá deixou a sala. Alexandre negou a autoria, chorou ao lembrar da filha (um choro sem lágrimas, segundo classificou o promotor), disse que foi ameaçado e coagido pelos policiais e autoridade policial e trocou farpas com a acusação. O depoimento durou cerca de cinco horas, terminando às 16:25. Em quinze minutos, começou o depoimento de Ana Carolina Jatobá. Chorando compulsivamente, ela também negou a autoria e disse que amava a menina como se filha dela fosse. Entretanto, ela se contradisse com o marido em seu depoimento ao dizer que viu quando Alexandre tirou uma chave do bolso para abrir o apartamento onde tinha deixado Isabella dormindo, ao voltarem com os dois filhos (Alexandre disse que havia deixado a porta aberta antes de descer para buscar Ana Carolina Jatobá e os dois outros filhos, o que abriu espaço para a tese de que uma ‘terceira pessoa’ foi responsável pelo crime). A sessão terminou às 20:50. A defesa voltou atrás e pediu a liberação da mãe de Isabella, que estava incomunicável, numa das salas do fórum, desde o dia de seu depoimento, à disposição da justiça. Vários jornais haviam noticiado que a mesma estava deprimida, a ponto de roer as unhas e morder os lábios até sangrarem, revivendo o trauma pelo qual passou após a morte da filha.

O quinto dia de julgamento foi reservado para os debates orais. O advogado Roberto Podval declarou à imprensa que não acreditava que o júri iria absolver o casal, disse que a causa estava perdida e que ‘aqueles que estavam na porta do fórum pedindo justiça são os mesmos que um dia precisarão de um advogado’. Às 10:30, O Promotor Francisco Cembranelli iniciou suas falas, na qual citou dados técnicos e depoimentos de vizinhos do casal, que disseram que eles viviam em briga, e que tais conflitos tinham sempre o mesmo motivo: A mãe da menina Isabella. Cembranelli afirmou que Ana Carolina Jatobá, a madrasta, era um ‘barril de pólvora’ e que ela via na menina a imagem de sua rival, a mãe dela. O Promotor terminou sua exposição às 10:00. O julgamento foi retomado cerca de uma hora e meia depois, com os argumentos da defesa. O advogado contestou as provas, tentando semear a dúvida entre os jurados. O discurso teve fim às 17h, com uma frase de Chico Xavier: ‘Ninguém pode voltar atrás e fazer um novo começo, mas podemos fazer um novo final’. Houve réplica e tréplica. Nesta, o advogado de defesa usou apenas 45 minutos das duas horas a que tinha direito, pedindo absolvição por absoluta ausência de provas. Às 21:00, encerraram-se os debates e, após recesso de uma hora para jantar, os jurados iniciaram a votação na sala secreta. Do lado de fora do fórum, muita tensão e expectativa. Pessoas gritavam frases como ‘7x0’ (pedindo as jurados que fossem unânimes na condenação), ‘assassinos’, entre outras. Às 00:17, o juiz iniciou a leitura da sentença, permitindo que apenas o áudio fosse transmitido ao vivo. O júri deciciu que o casal era culpado dos crimes imputados na denúncia, condenando Alexandre Nardoni à pena de 31 anos, um mês e dez dias de prisão (a pena dele foi mais alta por ser pai da vítima), por homicídio triplamente qualificado; pelo mesmo crime, Ana Carolina Jatobá foi condenada à pena de 26 anos e oito meses. Pelo crime de fraude processual cada um foi condenado a mais 8 meses de prisão. Houve até quem soltasse fogos de artifício comemorando a sentença. Forte esquema de segurança foi armado para que os condenados pudessem voltar para a carceragem, pois muitos queriam linchá-los. A defesa prometeu recorrer da sentença, com o fim de anular o júri.

Isabella Nardoni com sua mãe, Ana Carolina Oliveira

2 comentários:

  1. Não esqueça, todos tem direito à defesa, mesmo aquele que matou sua mãe.ok Vc pode até não aceitar, mais quem a Constituição garante.!!!

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  2. Caro resc, como advogado, claro que eu tenho ciência de que todos têm direito à defesa, melhor dizendo, à ampla defesa (pelo menos em tese. Os que militam na área criminal sabem que, muitas vezes, a ampla defesa vai para debaixo do tapete. A própria Constituição garante que o salário mínimo deve atender a todas as necessidades básicas do homem, e por acaso atende ?). O que eu coloquei neste post foi que o casal foi 'condenado antecipadamente pela sociedade', até pelo sensacionalismo que a mídia deu ao caso, como se julgamentos fossem espetáculos... e também fiz um resumo do que aconteceu no decorrer das sessões. Não entrei em nenhum momento no mérito da questão. Obrigado por acessar o blog e comentar. Um grande abraço.

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