sábado, 11 de julho de 2009

Cícero



Parece-nos que só há verdadeira nobreza d’alma e verdadeira coragem nos homens que são ao mesmo tempo bem formados, sinceros, amigos da verdade e incapazes de enganar: todas essas qualidades são do homem justo. Mas é triste constatar que, muitas vezes, ao lado dessa elevação dessa nobreza d’alma, se misturam a obstinação e o desejo desenfreado de superioridade. E como Platão disse que todo Lacedemônio respirava o anseio de vencer, nós vemos que o anseio de dominar todos os outros, ou de dominar sozinho, é uma forma ordinária de grandeza d’alma. Ora, desde que se deseja elevar acima dos outros, é difícil respeitar a igualdade própria da justiça. Assim, os ambiciosos não sabem abdicar a nenhuma de suas pretensões, nem se deixam conter pela autoridade pública e legítima. Vemos no seio da pátria homens que se tornam pródigos, formando grupos para aumentar seu poder e dominar pela força, antes de procurar equiparar-se a seus concidadãos, pela justiça. Quanto mais difícil o equilíbrio, mais grandiosa é ela, porque não há na vida nenhuma circunstância na qual a justiça não deva ser lembrada. Temos como mais fortes e magnânimos os que afastam a injustiça, que os que a cometem. (Em Dos Deveres. Trad. Alex Marins. São Paulo: Martin Claret, 2002, p. 50)

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