domingo, 5 de julho de 2009

Shakespeare



König Lear beweint Cordelia (Rei Lear Lamenta a morte de Cordélia), James Barry, 1786-1788

E a criatura a correr do mastim ? Nisso pudeste contemplar a grande imagem da autoridade: um cão que é obedecido, quando exerce sua função. Velhaco, esbirro, detém tua mão ensangüentada! Por que açoitas essa prostituta ? Desnuda teu próprio dorso, já que ardes em desejos de cometer com ela o delito pelo qual a estás castigando. O usurário enforca aquele que o rouba; os vícios pequenos são vistos através dos andrajos; a púrpura e o arminho tudo ocultam. Põe couraça de ouro no pecado e a terrível lança da Justiça se quebrará impotente contra ele; arma-o com farrapos, que a palha de um pigmeu o traspassará. Ninguém é pecador, ninguém, repito, ninguém. Eu observarei todos eles. Escuta, meu amigo: Posso garantir-te que tenho o poder de fechar os lábios do acusador. Arranja óculos e, como um vil intrigante, finge ver o que não estás vendo. Vamos, vamos, tirem-me as botas; com mais força, com mais força! Assim. (Fala de Rei Lear, Ato IV, cena VI em SHAKESPEARE, William. Rei Lear. São Paulo: Martin Claret, 2005, p. 106, sem destaques no original)

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