“- Engana-se – replicou o demônio – E, em vez de ameaçar, contento-me em ser razoável com você. Sou mau porque sou miserável. Acaso não sou evitado e odiado por toda a humanidade? Você, meu criador, seria capaz de reduzir-me a frangalhos e exultar com isso. Considere isso e diga-me por que devo usar de mais piedade com o homem do que ele comigo. Para você, não seria crime jogar-me numa dessas fendas de gelo e destruir minha estrutura, a obra de suas próprias mãos. Por que devo eu respeitar o homem se ele me despreza? Que ele viva em paz comigo e deixe-me viver. Então, em vez de malefícios, derramarei o bem sobre sua cabeça, agradecendo por ter-me aceitado. Mas isso não é possível. Os sentimentos humanos são barreiras intransponíveis à nossa união. Todavia, não terei a submissão do escravo. Vingar-me-ei das ofensas. Se não posso inspirar amor, causarei medo, e principalmente a você, meu arquiinimigo, que por ser meu criador, juro odiar sem trégua. Esteja atento para isto: Trabalharei por sua destruição e não descansarei até que tenha esfacelado seu coração, de tal modo que você amaldiçoará o dia em que nasceu.” (destaquei)
Em Frankenstein. Tradução Pietro Nassetti. São Paulo: Martin Claret, 2001, p. 138-139.
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